Quando o Brasil amanhecia - com obras de Vitor Meireles e Candido Portinari
rioecultura : EXPO Quando o Brasil amanhecia - com obras de Vitor Meireles e Candido Portinari : Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)
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Abertura: 20 de abril de 2013
Encerramento: 9 junho de 2013
Dois dos mais importantes ícones das nossas artes visuais estão unidos em torno da histórica Primeira Missa realizada no Brasil - acontecida em maio de 1500, no sul da Bahia, e que para muitos é considerada a certidão de nascimento do país - o paulista Cândido Portinari (1903-1962) e o catarinense Vitor Meireles (1832-1903) estampam suas visões pessoais sobre o evento.

Entre as várias leitura possíveis, esta mostra coloca a oportunidade de comparar duas escolas de pintura, o romantismo acadêmico de Vitor Meireles, atuante no século 19, em contraposição à liberdade modernista de Cândido Portinari, um dos maiores nomes da pintura brasileira do século 20, num mesmo espaço.

A exposição marca a primeira exibição ao público da tela A primeira missa no Brasil, de Portinari, obra que foi comprada pelo IBRAM por R$5 milhões no ano passado e que em janeiro último foi transferida para o acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Obra capital da pintura moderna brasileira, por muitas décadas a tela de Portinari foi vista apenas por poucos privilegiados. A obra foi restaurada pela equipe de conservação do Museu durante 3 meses para só agora voltar a ser exibida. Há mais de 70 anos o governo Federal não realiza investimento tão significativo para a coleção do MNBA.

Outra curiosidade: o titulo da exposição "Quando o Brasil amanhecia", explica o curador Pedro Xexéo, foi sugerido em parte por um livro de Alberto Rangel (1871–1945), historiador e escritor pernambucano, que tecia narrativas dos fatos iniciais da terra brasileira. Dentro da sala Bernardelli também estão sendo exibidos estudos, fotos, documentos e objetos que ajudam a contextualizar as duas gigantescas criações de Portinari e Meireles. Algumas das peças foram cedidas por colecionadores particulares.

A “Primeira Missa no Brasil” nos traços de Vítor Meireles

rioecultura EXPO: Quando o Brasil amanhecia - obra de Vitor Meireles

Tida como uma das pinturas mais populares do Brasil, A Primeira Missa no Brasil de Vítor Meireles nos remete ao curso primário de antigamente, quando gerações inteiras acostumaram-se a vê-la reproduzida em livros didáticos, em cédulas de dinheiro, selos, além de capas de cadernos. Seu autor, o catarinense Vítor Meireles, a pintou entre os anos de 1858 e 1860, em Paris. Inspirando-se, basicamente, no relato estampado na Carta de Pero Vaz de Caminha. O artista compôs a histórica pintura, após realizar dezenas de desenhos preparatórios e um esboço que foi enviado e exposto nas Exposições Gerais da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1859 e 1860.

Outro dado importante é que o quadro de Meireles foi a primeira obra do artista brasileiro a ser exposta no Salão de Paris, em 1861. No ano seguinte, a tela foi exibida na Exposição Geral da Academia Imperial, sob o número 39. A obra conquistou um sucesso retumbante e Vítor Meireles foi condecorado com o grau de Cavaleiro da Ordem da Rosa, pelo Imperador D. Pedro II.

Medindo 270 x 357 cm, este óleo sobre tela já suscitou polêmica: muitos escritores, jornalistas e críticos repetem que Vítor Meireles cometeu um equívoco ao nomear sua obra de “Primeira Missa no Brasil”. Vítor Meireles, no entanto, descreveu a segunda missa aqui celebrada, tendo-a denominado, “Primeira Missa”, por ser a primeira a ser oficiada em terra firme, na presença de índios tupiniquins, no dia 1º de maio de 1500.

A carpintaria da “Primeira Missa no Brasil” exigiu muito esforço do seu autor. Além da leitura minuciosa da “Carta” de Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, publicada apenas no século XIX, Vítor Meireles realizou dezenas de estudos preparatórios, em técnicas diversas, que formam um conjunto harmonioso, pleno de imaginação e que demonstram a operosidade e o rigoroso método do pintor catarinense, já detentor na época (1858-1860) de um hábil “métier” gráfico, desenvolvido em seus estudos em Roma e Paris.

Complementando a mostra Quando o Brasil amanhecia estarão presentes oito desenhos, do total de 23, que o MNBA possui. São obras primorosas - estudos de objetos, figuras isoladas, grupos de personagens, detalhes paisagísticos, armaria, além do magnífico esboço das mãos postas - que revelam o trabalho de um sofisticado desenhista. Muito do processo de criação de Vítor Meireles é revelado por estes desenhos. Além disso, um retrato fotográfico de Vítor Meireles, pertencente ao Arquivo Histórico do MNBA(de autor desconhecido)e flagrando os últimos anos da vida do pintor também integra a exposição.

“A Primeira Missa no Brasil” na visão de Cândido Portinari

rioecultura EXPO: Quando o Brasil amanhecia - obra de Cândido Portinari

Este painel, representando a primeira missa realizada no Brasil, foi encomendada a Cândido Portinari por Thomaz Oscar Pinto da Cunha Saavedra (Lisboa, 1890- Rio de Janeiro, 1956), 5º Barão de Saavedra, para decorar a sobreloja da sede do então Banco Boavista, no Rio de Janeiro, um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer (Rio de Janeiro, 1907-2012). Na ocasião Saavedra era o presidente do banco.

O falecido crítico de arte Antonio Bento, analista da obra de Portinari e seu amigo pessoal, considerava “inadequado” o local que foi destinado à pintura, no “mezzanino” do prédio, porque o projeto de Niemeyer não contemplava, quando foi realizado, um local para exibir o mural. Na década de 1990, esse prédio, característico dos novos rumos da arquitetura contemporânea, foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural / INEPAC, juntamente com a pintura de Portinari.

Em fins de 1947, por motivos políticos, (integrou o Partido Comunista do Brasil) o pintor exilara-se, voluntariamente, em Montevidéu, no Uruguai, país natal da sua esposa Maria. Foi em 1948, que Portinari concluiu a pintura do mural, sendo este exposto, pela primeira vez, em abril daquele ano, no Teatro Solis, da capital uruguaia.

O painel foi realizado em têmpera sobre tela, técnica que se repetiu em outros murais. A pintura, imediatamente, se distinguiu por suas qualidades formais e técnicas, além de sua grande dimensão.

A ligação de Cândido Portinari com o MNBA é histórica. Nos idos de 1939, o Museu sediou a, até então, maior exposição do pintor, com 269 obras, num evento que marcou época. Em seguida, uma outra exposição individual de 168 obras ocupou os espaços do MNBA, em 1943.



As duas versões da Primeira missa no Brasil em perspectiva

Analisando “A Primeira Missa no Brasil” de Cândido Portinari, o grande crítico de arte pernambucano Mário Pedrosa destacava seu caráter antinaturalista, comparando a versão de Portinari com a pintura homônima do mestre catarinense. Vítor Meireles concebeu um grande quadro histórico, seguindo os preceitos estéticos e formais vigentes em meados do século XIX, buscando criar uma imagem subordinada a possível realidade histórica, mesmo que, idealizando, através da distribuição das figuras e paisagem, da composição, enfim, o presumível aspecto solene do evento. Portinari desviou-se da realidade histórica, interpretando a cena livremente, não se prendendo, como foi o caso de Meireles, ao texto da carta de Pero Vaz de Caminha. Ambas pinturas, no entanto, nos transmitem grandiosidade e cativam nosso olhar.

Em seu trabalho, Portinari não apelou para o pitoresco, criando uma original composição, que é sintética, possuindo luz própria, além de apresentar um nítido aspecto cenográfico. Não existe qualquer tentativa de mímese, de apreensão de aspectos da topografia da região de Bahia onde desembarcaram os portugueses. Os quase cem anos que separam a realização das duas obras condicionaram a maneira de pintar e também a técnica escolhida.

São intensos e diversificados, os elogios às qualidades formais das duas pinturas. O olhar do critico Antonio Bento, por exemplo, louvava o cromatismo da pintura de Portinari, declarando que achava este trabalho, uma das grandes realizações do pintor, como colorista. Mário Pedrosa também considerava o painel “A Primeira Missa no Brasil”, obra de mestre, observando que a tela do artista paulista possui um caráter mais simbólico e intimista que a histórica composição de Vítor Meireles.

As duas pinturas, de Meireles e Portinari, são trabalhos de méritos evidentes. No caso de Portinari, seu painel dá início a uma nova série de pinturas murais como “Tiradentes” - extraordinária como composição – de dimensões superlativas. Contrariando períodos anteriores, essa nova fase possui uma visível contenção formal, despida de qualquer característica romântica. Nesta obra, Portinari é informado pelo Cubismo e por seu inato expressionismo. A “Primeira Missa no Brasil” de Vítor Meireles é provavelmente sua obra maior tanto pela feliz organização da composição, assim como pelo tratamento dado às figuras e à cor.



Vida e obra de dois expoentes artistícos

Cândido Portinari
Nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, em uma fazenda de café, nas redondezas de Brodósqui, no interior de São Paulo. Quando menino virou ajudante de um pintor convidado para decorar a matriz da igreja local. Aos quinze, virtuoso, ele se mudou para o Rio de Janeiro para começar seu aprendizado artístico, inscrevendo-se em alguns concursos para o ingresso na Escola de Belas Artes, mas somente três anos depois foi admitido no curso de desenho figurativo, tendo passado anteriormente pelo Liceu de Artes e Ofícios.

Participou, pela primeira vez, da Exposição Geral de Belas Artes, em 1922. Sua ascensão foi continuamente construída com o estudo formal, o desenvolvimento da expressão plástica e a conquista de alguns prêmios importantes, como o de viagem ao exterior, concedido em 1928, pelo retrato do poeta Olegário Mariano(integrante do acervo do MNBA). Ele retornou ao país três anos depois, sem ter pintado nenhuma tela, mas com diversas propostas para suas futuras obras. Em 1935, recebeu seu primeiro prêmio no exterior pela tela Café. Um ano depois, pintou o mural Monumento Rodoviário da Estrada Rio-São Paulo e, em seguida, os painéis para o prédio do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Na década de 1940, Portinari realizou uma exposição nos Estados Unidos e os painéis da Biblioteca do Congresso de Washington. Em 1956, executou a célebre Guerra e Paz na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao longo de quase cinquenta anos de carreira artística, ele também atuou como desenhista, gravador e ilustrador, produzindo, inclusive, diversos poemas. Portinari morreu no Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de 1962, decorrente da intoxicação pelas tintas com alto índice de chumbo.

Vitor Meireles
Aos seis anos iniciou seus estudos artísticos em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis, onde nasceu em 1832),). Com apenas 15 anos de idade, em 1847, matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, iniciando dois anos mais tarde o curso de pintura histórica, tema que o consagrou como pintor. No ano de 1853, recebeu o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro embarcando como bolsista para a Itália. Frequentou em Roma o ateliê de Tommaso Minardi (1787 – 1871) e de seu discípulo Nicola Consoni (1814 – 1884), com quem teve aulas de modelo vivo. Percorreu cidades como Florença e Veneza, realizando cópias de obras famosas. Sua estadia no exterior foi prorrogada três vezes. No final de 1856, viajou a Paris por sugestão do amigo e pintor Araújo Porto Alegre (1806 – 1879), diretor da Academia Imperial na época, aperfeiçoando seus estudos no ateliê de Léon Cogniet (1794 – 1880). Na capital francesa, foi encorajado a compor uma pintura que representasse um evento importante da história do Brasil. Daí surgiu a tela “Primeira missa no Brasil”, tema escolhido pelo artista. Concluída em Paris no ano de 1860, resultou de vários estudos preparatórios produzidos por Vítor a partir de 1858. O artista retornou ao Brasil em 1861, recebendo a condecoração de Cavaleiro da Ordem da Rosa, título dado por D. Pedro II. No ano seguinte, assumiu o cargo de professor na Academia Imperial de Belas Artes. Contudo, com a Proclamação da República em 1889, ligado ao Império, Vitor Meireles acabou sendo exonerado da então Escola Nacional de Belas Artes. Exposição: Quando o Brasil amanhecia, com obras de Vitor Meireles e Candido Portinari.
Local:
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)
Avenida Rio Branco, 199
Centro
(21) 3299-0600

Funcionamento:
De 3ª a 6ª feira, das 10h às 18h
Sábado, domingo e feriado, das 12h às 17h

Ingresso:
R$8 [inteira]
R$4 [meia]
Gratuidade para: pessoas acima de 65 anos, estudantes da rede pública e de professores de órgãos reconhecidos pelo MEC.
Ingresso família: R$8 para até 4 pessoas juntas da mesma família
Entrada franca aos domingos

Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.