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Mais antiga rua da cidade está abandonada à própria sorte
Um dos marcos mais antigos e simbólicos da cidade está pedindo socorro. A Ladeira da Misericórdia, primeiro logradouro do Rio de Janeiro, entrou no século XXI esquecida e relegada à própria sorte.

Durante séculos, a Ladeira da Misericórdia era a principal via de acesso ao Morro do Castelo, sendo o único vestígio que sobreviveu à demolição do mesmo, em 1922. Ela foi também a primeira rua a sofrer calçamento de pedra no Rio de Janeiro (em 1617).
Mas o que se vê hoje é uma via sem saída, com cerca de 40 metros e que ainda preserva o piso original à base de pé-de-moleque. A ladeira está localizada junto à Igreja de N.S.do Bonsucesso, próxima ao Museu Histórico Nacional, na região outrora conhecida como Largo da Misericórdia.


Historiadores e arquitetos vêm denunciando o estado de decadência daquele monumento, sem que as autoridades tomem qualquer providência. Um descaso total em relação à memória do Rio.
Atualmente quem visita a Ladeira da Misericórdia encontra mato alto crescendo em torno do calçamento irregular, que está necessitando de reparos, pois várias pedras encontram-se soltas. Outro problema é o forte odor de urina e fezes que contribuem para afugentar os turistas. Como o local é abandonado, acaba funcionando de “banheiro” para mendigos.


Não existe qualquer sinalização do bem histórico e o local não inspira segurança – dificilmente é visto policiamento naquele trecho.
O arquiteto e urbanista Antônio Agenor de Melo Barbosa, que costuma levar seus alunos e grupos de visitantes para conhecer os espaços históricos do Rio, é um dos que lastima a sorte daquele marco: “A Ladeira da Misericórdia não faz parte das rotas turísticas que buscam mostrar a história do Centro do Rio. Em geral os roteiros que as agências promovem começam pela Praça XV em direção à Candelária e ao Mosteiro de São Bento. Algumas publicações sequer mencionam a sua existência e isto é, a meu ver, sintoma deste esquecimento”, diz o professor.

Antônio Agenor lembra que não só a Ladeira está abandonada, mas toda aquela região: “As praças estão gradeadas, o prédio do MIS foi recentemente gradeado, o DETRAN construiu um horrendo galpão em frente à Santa Casa e o pé da Ladeira com uma espécie de ´ruína´ logo ao lado do MIS também foi gradeado para evitar o acúmulo de lixo. Há um terminal de ônibus muito mal planejado e que faz com que não se tenha noção dos espaços na sua totalidade, tamanha é a quantidade de ônibus que por ali circulam. Enfim, é todo um contexto histórico degradado que merece mais atenção e zelo. A municipalidade deveria olhar para aquele espaço com carinho e objetividade de intenções”.
Quando será que as autoridades irão se comprometer com a memória da cidade e com o turismo de âmbito cultural? Assim como outros sítios históricos, a Ladeira da Misericórdia está à espera.
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O Pé-de-Moleque no Morro do Castelo

“O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas”. Assim descreveu Machado de Assis na obra Esaú e Jacó, o piso irregular feito à base de pé-de-moleque da Ladeira da Misericórdia. O engenheiro e arquiteto Adolfo Morales de Los Rios filho, autor da célebre obra “Grandjean de Montigny e a Evolução da Arte Brasileira” descreveu a técnica de calçamento empregada na Ladeira da Misericórdia: “Era do tipo tosco conhecido como empredado, isto é, feito com pedras de mão (matações) colocados soltas sobre o solo. Seu ajuntamento se processava por meio de instrumento conhecido como soquete. Após a chegada dos negros africanos, estes passaram a empregar pedras chatas e arredondadas no contorno, introduzidas no solo pela compressão do soquete e também pelo emprego do maço: martelo de pau encabado”.
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Fotos:
Site Marcilio.com
Fotolog Rio de Fotos
Site HC Gallery
Acervo André Mendonça
Acervo Rio&Cutlura |
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