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“Um bom carioca não pode desconhecer o Chafariz do Lagarto.
Nada tem de pomposo o chafariz, mas na sua singeleza,
na sua vetustez, diz passado a quem ama a cidade (...)”
Escragnolle Doria (1927)

Muitos cariocas não conhecem, nem nunca ouviram falar no Chafariz do Lagarto, que sobrevive ao tempo e ao esquecimento, na Rua Frei Caneca, quase em frente ao atual 16º BPM.
O Chafariz do Lagarto foi construído por iniciativa do Senado da Câmara, em 1786, no governo de d.Luiz de Vasconcelos, com o objetivo de canalizar as águas do Rio Comprido. A fonte, que recebia água pelo aqueduto do Catumbi, foi instalada no “Caminho do Engenho Pequeno”, atual Rua Frei Caneca.
O Chafariz do Lagarto compõe-se de um tanque de cantaria limitado por duas pilastras encimadas por frontão curvo e simples, no qual, de um nicho raso, um lagarto jorrava água pelas mandíbulas. No centro do chafariz lê-se a inscrição em latim “Ao sedento povo, o Senado deu água em abundância. Ano 1786”.
O Chafariz do Lagarto possuía um bebedouro para animais. O lagarto fornecia água pelos maxilares. Durante algum tempo, correu na cidade uma lenda que o chafariz era mal-assombrado. Isso se devia a alguém que se escondia no alto do paredão da fonte a atirava moedas de cem mil réis na bacia, provocando uma aglomeração de pessoas. O autor da brincadeira acabou preso. Na época de sua construção, o lagarto causou polêmica entre a população, que não entendia o porque da escolha de um bicho “feio e maldito”, que “representava a figura do demônio”.

Não se tem certeza se o Chafariz do Lagarto é realmente obra de Mestre Valentim. Mas há fortes indícios que levam pesquisadores a atribuir sua execução ao artista, principalmente por se tratar de uma construção do governo de d.Luis de Vasconcelos, que estimava o trabalho do mestre. Há também o argumento que Valentim era o único fundidor do Rio naquela época. Vieira Fazenda é um dos que atribui a Valentim a execução do chafariz.
Em 1848 o chafariz foi restaurado por iniciativa do Ministro dos Negócios do Império, o Visconde de Macaé. Em 11/05/1938, o monumento foi tombado pelo então SPHAN.
As obras realizadas para a reurbanização da Cidade Nova e do Catumbi atingiram parcialmente o Chafariz do Lagarto, que ficou “perdido” entre montes de escombros oriundos da construção do elevado entre o Túnel Santa Bárbara e o Viaduto São Sebastião.

Em 1968, uma matéria do jornal O Globo intitulada “Em ruínas obra de Mestre Valentim” denunciou o estado de abandono que se encontrava naquela ocasião o Chafariz do Lagarto. Segundo a matéria, o monumento era utilizado como depósito de lixo e como sanitário e dormitório para mendigos.
Em 1975, o lagarto de bronze é roubado. Em seu lugar é colocada uma cópia de ferro, um pouco maior.
Em 1978, havia colada ao chafariz uma residência térrea habitada pela viúva de um antigo funcionário do Departamento de Águas e Esgotos, que exerceu por muitos anos a função de zelador da fonte.
O Chafariz do Lagarto foi restaurado entre outubro de 1986 e abril de 1987. O lagarto foi reproduzido em ferro. A bacia de cantaria foi recomposta. O monumento recebeu pintura nova e teve instalado um novo piso, com lajes de gnaisse. As paredes de alvenaria foram revestidas e a placa comemorativa de mármore foi limpa. Nessa época, a zeladora ainda morava na casa anexa ao chafariz.
Segundo matéria publicada em 16/10/2009 pelo Jornal do Brasil, o “Chafariz do Lagarto também é desativado e habitado, mas, segundo a Fundação Parques e Jardins, de forma regular por antigos zeladores. O problema é do lado de fora. O rabo do lagarto que o dá nome já foi “cortado” por vândalos e a serve de banheiro para mendigos, semiescondido por um estacionamento”.

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Fontes de Consulta:
Revista da Semana – 16/07/1927 – Artigo: “O Chafariz do Lagarto”, por Escragnolle Doria
“Demolições Ameaçam Obra Antiga” (Jornal do Brasil – sem data) – Acervo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
“Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro” – Carlos Nelson Ferreira dos Santos. Zahar, RJ: 1981.
Artigo “Muita Água ainda há de rolar – Há 200 anos, seis chafarizes fazem história no Rio” – por Antonio José Mendes – Revista de Domingo – Jornal do Brasil – 08/02/1987.
Artigo “Em Ruínas Obra de Mestre Valentim” – O Globo: 01/10/1968.
Arquitetura Oficial III – FAU/USP – MEC/IPHAN – 1978
Arquivo Noronha Santos (IPHAN)
Carvalho, Anna Maria Fausto Monteiro de, and Valentim Fonseca e Silva. Mestre Valentim. [São Paulo]: Cosac & Naify Edic̦ões, 1999.
Matéria “Prefeitura vai gastar R$ 1 milhão para restaurar chafarizes históricos” – João Pequeno - Jornal do Brasil - 16/10/2009 |
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