|
|
|
 |
Situado em um dos trechos do maciço da Tijuca-Carioca, a 200m de altitude, o bairro de Santa Teresa é um dos locais mais poéticos e pitorescos da cidade. Ali, o conjunto arquitetônico, o arruamento, os museus, o clima, a paisagem e o ritmo próprio do bairro tornam Santa Teresa um dos sítios histórico-culturais mais importantes do país.

Santa Teresa tem clima de cidade do interior. Lá todo mundo se conhece, do motorneiro do bondinho ao quitandeiro.
Os primeiros habitantes de Santa Teresa foram os índios Tamoio, que abandonaram sua aldeia na praia e escolheram o morro para fugir dos portugueses. Em seguida, o morro tornaria-se refúgio de escravos fujões, marginais, quilombolas e praticantes de candomblé. Em 1620, o ermitão Antonio Gomes do Desterro constrói uma ermida consagrada à N.Sra.do Desterro. Logo a pequena capela passou a atrair uma legião de romeiros e o morro passou a ser conhecido como Desterro.

No século XVIII, a partir da iniciativa de uma jovem de nome Jacinta, seria construído no local da velha ermida, um convento de freiras. O governador Gomes Freire de Andrada* autorizou a construção da casa religiosa, mas o bispo do Rio, D.Antônio, não permitiu que nela fosse professada a austera ordem de Santa Teresa D’Ávila. O bispo preferia a ordem de Santa Clara. Inconformada, Jacinta vai a Portugal pedir a intervenção do rei, mas a autorização só sairia alguns anos depois, quando tanto Jacinta, o bispo e o governador Gomes Freire já haviam morrido.
O pequeno Convento de Santa Teresa é então marco inicial do bairro e sua construção mais antiga. O belo prédio, em estilo jesuítico, foi construído pelo brigadeiro Alpoim. Chamam a atenção as grades de ferro com espinhos grossos voltados ao exterior para afugentar as tentações e a entrada de estranhos. No Convento estão enterrados lado a lado, a fundadora Jacinta, o governador Gomes Freire e o arquiteto Alpoim.

Além do convento, outro marco da história de Santa Teresa é o Aqueduto da Carioca, conhecido popularmente como Arcos da Lapa. A falta d’água foi um problema crônico na cidade na época da colônia. O governador Aires de Saldanha deu início à construção de um aqueduto para levar a água de uma nascente no Silvestre até o Largo da Carioca.
O aqueduto uniria os morros de Santa Teresa e Santo Antonio e as águas desembocariam em um grande chafariz de 16 bicas. As obras foram concluídas em 1724, mas o governador Gomes Freire de Andrada reformaria os arcos, dando-lhes maior solidez e racionalidade. O caminho que a água seguia passou a ser chamado de rua do Aqueduto (a atual Alm.Alexandrino). O Aqueduto da Carioca é considerado a maior obra pública do Brasil Colônia.


O acesso primitivo a Santa Teresa dava-se por uma íngreme ladeira que levava ao convento. Só em 1858 seria aberta a primeira rua que permitiria o tráfego de carruagens: a D.Luísa (atual Cândido Mendes). Nessa época ocorreu um surto de construção de chácaras no bairro. A elite carioca procurava no morro um clima mais ameno e um local para fugir dos mosquitos e epidemias da cidade. Com o povoamento, cresceu a necessidade de se desenvolver um sistema de transportes no morro. Inicialmente foi construída uma linha de bondes puxados por animais.
Em 1877 é inaugurado um plano inclinado que transportava os passageiros da rua do Riachuelo até o Largo do França. Como o plano não atendia ao grande número de usuários, cogitou-se da idéia de criar uma linha à tração elétrica, que levaria os passageiros de uma estação no Largo da Carioca. A linha foi inaugurada em 1896, passando sobre o antigo Aqueduto da Carioca. A partir de então, o bondinho seria incorporado à paisagem do bairro e da cidade e se tornaria o principal símbolo de Santa Teresa. Nele já viajaram personalidades como Floriano Peixoto e Prudente de Moraes.


O bondinho foi tombado pelo Patrimônio Estadual em 1984, mas vem sofrendo diversos problemas. Em 91, um dos bondes foi restaurado, sendo inaugurado com uma grande festa. No entanto, o bonde circulou apenas durante algumas horas em determinados dias. Na ocasião, a AMAST lançou os dez mandamentos do bondinho, que incluem a obrigatoriedade de pagar a passagem e de viajar sentado. Alguns, como o historiador Umberto Peregrino, consideram que viajar de pingente no bondinho seria a “única vantagem real concedida ao povo pobre da cidade”. Hoje, dos 19 bondes, há apenas cinco circulando.
Desde os tempos do Império, Santa Teresa é conhecida por abrigar um grande número de políticos, artistas plásticos, intelectuais, arquitetos, escritores etc. Benjamin Constant, Campos Salles, Artur Azevedo, Pascoal Carlos Magno, Júlia Lopes de Almeida, a pintora Djanira, o escultor Roberto Moriconi, o industrial Raymundo Castro Maia e o cantor Dick Farney foram alguns dos moradores famosos de Santa. Freqüentar as rodas do bairro era sinônimo de status no início do século. Em 1915, a bailarina norte-americana Isadora Duncan esteve no Rio para uma apresentação no Teatro Municipal. Ciceroneada pelo jornalista João do Rio, Isadora ficou hospedada em um hotel próximo ao Curvelo.


Outro personagem famoso do bairro foi Laurinda Santos Lobo, batizada por João do Rio de “Marechala da elegância”. Sobrinha do homeopata Joaquim Murtinho, Laurinda dividia-se entre Paris e Santa Teresa, onde morava em um luxuoso palacete na rua Murtinho Nobre. Ali realizavam-se concorridos saraus e reuniões literárias, freqüentadas por nomes como Villa-Lobos e Oswaldo Cruz. Após sua morte, o palacete foi abandonado e saqueado, e chegou a ser habitado por um traficante. Agora, a Administração Regional do bairro criou no local o Parque das Ruínas, com espaços para concertos, exposições e seminários.
Para os atuais moradores, os maiores problemas de Santa Teresa são a coleta de lixo, a carência de transportes e a falta d’água. O processo de favelização do bairro teve início nos anos 40 (hoje são 14 favelas).


Tornada área de proteção ambiental em 1984, Santa Teresa é hoje uma das melhores opções de turismo cultural e gastronômico da cidade: quem a visitar poderá observar os castelinhos, palacetes, chalés e pisos pé-de-moleque característicos do bairro, além de conhecer os museus Casa de Benjamin Constant e Chácara do Céu, o centro cultural Laurinda Santos Lobo e os inúmeros ateliêrs do bairro.
Há também muitas lojinhas para as compras de artesanato, decoração, arte e souvenirs, além de badalados restaurantes, como Adega do Pimenta, Aprazível, Bar do Arnaudo, Bar do Mineiro, Sansushi e Sobrenatural, entre outros.

Por Leo Ladeira
---------------------------------------
Fotos: Leo Ladeira e Alexandre Siqueira
Fontes de Referência:
- João do Rio: Uma Biografia – João Carlos Rodrigues – Topbooks – 1996
- Honradas e Devotas: Mulheres da Colônia – Leila Mezan Algranti – Edunb / José Olympio Editora – 1993
- Santa Teresa: A Cidade na Montanha – Coleção Bairros Cariocas / Prefeitura do Rio de Janeiro – 1990
- Arquitetura Religiosa Colonial no RJ – Sandra Alvim / Ed.UFRJ / IPHAN / Pref.do RJ – 1998
- Guia Museus do Rio – Isabel de Sued – Agir Editora – 1994
- Rio de Janeiro: Preservação & Modernidade – Pref.do RJ – Sextante Artes – 1998
- Guia dos bens tombados. Maria Elisa Carrazzoni. RJ: Expressão e Cultura, 1987.
- Evolução Urbana do Rio de Janeiro – Maurício Abreu. Jorge Zahar, 1987.
- Memórias da cidade do Rio de Janeiro. Vivaldo Coaracy. Belo Horizonte: Itatiaia / Ed.da USP, 1988.
- Acervo Leo Ladeira |
 |
|
|
 |
|
|
|