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O Castelinho da Ilha Fiscal é um dos mais famosos e queridos ícones históricos do Rio. Quem nunca reparou nele ao passar pela Baía de Guanabara, seja de barca ou pela Ponte Rio - Niterói?
Vários cariocas já descobriram também que é possível visitá-lo e conhecer um pouco mais sobre sua história.
O Castelinho de cor verde e a pequena ilha que o abriga são conhecidos por um baile! Mas não foi um baile qualquer, foi exatamente a última grande festa do Império antes da Proclamação da República Brasileira. O famoso “Baile da Ilha Fiscal” ocorreu no dia 9 de novembro de 1889, em homenagem aos oficiais do navio chileno "Almirante Cochrane". Seis dias depois, o imperador D. Pedro II seria deposto.
Anteriormente chamada de Ilha dos Ratos (não se sabe se por conta da quantidade de roedores ou pelo formato das pedras ao seu redor), a Ilha Fiscal recebeu seu atual nome após ser transformada em posto de fiscalização de navios.
O castelo, com 2 000 m² em estilo neogótico, foi construído após uma visita de D. Pedro II à ilha – encantado com a vista, ele havia dito que ela era “como um delicado estojo, digno de uma brilhante jóia”.

O CASTELO
Optou-se então pela construção de um pequeno castelo em estilo gótico-provençal, inspirado nas concepções do Arquiteto francês Violet-le-Duc. O projeto foi assinado por Adolpho José Del Vecchio - então Engenheiro-Diretor de Obras do Ministério da Fazenda -, onde se destacavam as agulhas e as ameias medievais a adornar a silhueta da edificação.
O projeto de Del Vecchio foi contemplado com a Medalha de Ouro na exposição da Academia Imperial de Belas Artes. O Castelinho da Ilha Fiscal é considerado uma das mais expressivas construções em estilo neogótico no Rio de Janeiro. No interior, destacam-se os trabalhos de cantaria de gneiss, o piso, a pintura decorativa na parede de Frederico Steckel e os vitrais.

Luxo e Extravagância
O baile da Ilha Fiscal, que reuniu mais de 2 000 pessoas, foi marcado pela extravagância: a ilhota foi toda enfeitada com balões venezianos, lanternas chinesas, vasos franceses e flores brasileiras. A suntuosidade da festa começava ainda na ponte flutuante montada junto ao cais para o embarque, ornamentada com seis grandes arcos e dois candelabros de gás. Junto a ela, tocava a primeira das seis bandas e orquestras contratadas para animar a festa. A festa custou aos cofres públicos cerca de 250 contos de réis, quase 10% do orçamento previsto da Província do Rio de Janeiro para o ano seguinte.
Na parte de trás do palacete foram montadas duas mesas, em formato de ferradura, onde foi servido um jantar para quinhentos convidados. As roupas finas das lojas do Rio se esgotaram. Setenta e duas horas antes do baile já não havia vaga nos cabeleireiros.

Segundo relatos históricos, a família imperial chegou ao cais pouco antes das 10 horas. D. Pedro II, fardado de almirante, a imperatriz Teresa Cristina e o príncipe D. Pedro Augusto embarcaram primeiro. Quinze minutos depois foi a vez da princesa Isabel e do conde D’Eu. Uma vez no palácio, foram conduzidos a um salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomático estrangeiro oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca. O guarda-roupa da imperatriz não chegou a causar impressão especial entre os convidados - um vestido de renda de chantilly preta, guarnecido de vidrilhos. A toalete da princesa Isabel, no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza. Ela portava uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes.
Naquele novembro de 1889, enquanto as senhoras se preparavam para o rega-bofe, homens conspiravam em confeitarias. Durante a festa, o clima de rivalidade entre monarquistas e republicanos não se manifestou. Apesar do sucesso do baile, o imperador pouco se divertiu. Ficou sentado o tempo todo e foi embora à 1h da manhã, sem jantar. Forçado a deixar o país em 17 de novembro, morreu dois anos depois, em Paris.
Visitas Guiadas

Em 2001 o espaço passou por intensos trabalhos de restauração, coordenados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A partir das obras, foi recuperado o esplendor das pinturas decorativas do teto, das paredes e do piso de parquê do torreão. Transferida para a Marinha pelo Ministério da Fazenda, em 1914, a Ilha Fiscal é hoje parte do Complexo Cultural do Serviço de Documentação da Marinha. Está ligada por um cais de cerca de 2 km à Ilha das Cobras. No castelo, aberto à visitação, destacam-se o Torreão e a Ala do Cerimonial. Três exposições permanentes também são atração no Castelinho: A História da Ilha Fiscal, A Contribuição Social da Marinha e A Contribuição Científica da Marinha. O acesso à Ilha Fiscal normalmente é feita pela Escuna Nogueira da Gama e as visitas são guiadas por monitores. Fora isso, o turista ainda encontra à sua disposição um lugar para tomar café e uma lojinha de souvenires.
Curiosidades do Baile

* Um fato irônico, até hoje não confirmado, ocorreu logo após a chegada da família real, às 10 horas da noite: conta-se que D. Pedro II, ao entrar no salão do baile, desequilibrou-se e levou um tombo. Ao recompor-se, exclamou: O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu!
* Outro acontecimento curioso ocorreu no término da festa. Às 5 horas da manhã, após a saída dos convidados, os trabalhos de limpeza revelaram alguns artigos inusitados espalhados pelo chão: além de copos quebrados e garrafas espalhadas, foram recolhidas condecorações perdidas e até peças de roupas íntimas femininas. O fato pode, entretanto, ser fictício, uma vez que foi relatado na coluna humorística Foguetes, do periódico carioca "O Paiz", no dia 12 de novembro.
* Entre as iguarias, servidas em pratos ornamentados com flores e frutas exóticas, foram consumidos:
800 kg de camarão
1.300 frangos
500 perus
64 faisões
1.200 latas de aspargos
20.000 sanduíches
14.000 sorvetes
2.900 pratos de doces
10.000 litros de cerveja
304 caixas de vinhos, champagne e bebidas diversas
* Como suas fontes de inspiração na França, o projeto do palacete da Ilha Fiscal não contava com banheiros. Os convidados tinham apenas poucos baldes de prata com areia dentro para fazer xixi. Quando a cerveja começou a fazer efeito, os homens não se apertaram e correram para a beira do mar. Já as madames tiveram de se ajeitar com baldes extras trazidos às pressas do continente nos cantos dos salões.
SERVIÇO
:: Saídas ::
Espaço Cultural da Marinha
Av. Alfredo Agache s/n , próximo à Praça XV, Centro, RJ.
:: Visitação ::
de 5ª feira a domingo.
:: Horários ::
13:00h, 14:30h e 16:00h
:: Venda de ingressos ::
das 11:00h às 16:00h
:: Local ::
Espaço Cultural da Marinha
:: Valores ::
R$10 [adultos]
R$5 [estudantes, crianças até 12 anos e adultos com mais de 60 anos]
Agendamento para grupos: (21) 2233-9165 / 2104-6992

REFERÊNCIAS
Veja na História, Festança sobre o Vulcão
SILVA, Hélio. Nasce a República. São Paulo: Três, 1975. p. 71.
REY, Marcos. Proclamação da República. São Paulo: Ática, 2003. p. 10.
CALDEIRA, Jorge. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 222. ISBN 8571646589
Wikipédia
Benjamin Constant – Vida e História, Renato Lemos, Topbooks, 1999
Salões e Damas do Segundo Reinado, Wanderley Pinho, Martins Fontes Editora, 1968
Leo Ladeira |
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