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O Hospício Pedro II
Muita gente desconhece que o majestoso edifício que hoje abriga o Fórum de Ciência e Cultura e quatro unidades acadêmicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na região conhecida como Praia Vermelha (Urca), funcionou originalmente como hospício para doentes mentais.


Inaugurado pelo Imperador D.Pedro II em 1852, o Hospício de Pedro II (depois Hospício Nacional dos Alienados) funcionava como uma unidade da Santa Casa de Misericórdia.
Até então, como relata a arquiteta Lucinda Oliveira Caetano no artigo “Palácio Universidade do Brasil: Um Legado do Neoclássico”, a “situação dos chamados alienados era calamitosa no Rio de Janeiro, pois não havia local, nem tratamento adequado para eles. Se bem comportados, eram enviados para a Santa Casa de Misericórdia, se violentos eram recolhidos às prisões, onde sofriam maus tratos, como o suplício do tronco”.
Essa situação começou a se transformar quando o provedor da Santa Casa, José Clemente Pereira, resolveu criar um Hospício, cuja pedra fundamental foi lançada por D. Pedro II em 1842.
Para erguer o edifício, foram utilizados recursos doados pelo governo e pela iniciativa privada. Em torno da atual Av.Pasteur, antiga Praia da Saudade, foi construída uma muralha impedindo uma possível invasão do mar. Segundo Ferreira da Rosa, “O prédio ocupava, juntamente com seu parque e áreas de isolamento, um total de 140.000 metros quadrados”.

Vista do hospício em 1865

Laboratório e Enfermaria
Em 30 de novembro, o prédio foi benzido e a Capela de São Pedro de Alcântara foi sagrada. Cinco dias depois, o Hospício foi inaugurado, passando a abrigar cidadãos de todos os sexos, condições sociais e credos. A instituição seria destinada para asilo, tratamento e curativo dos chamados “alienados”. Contou inicialmente com 144 pacientes internados e teve como seu primeiro diretor o médico Manoel Barbosa.
O Hospício dos Alienados funcionou naquele local até 1944, quando os pacientes foram transferidos para a Colônia Juliano Moreira e o Hospital do Engenho de Dentro.
Abandonado, o edifício esteve a ponto de ser demolido, mas em 1949 ali se instalou a Reitoria da Universidade do Brasil, antiga Universidade do Rio de Janeiro e atual UFRJ.
O Palácio foi tombado e restaurado obedecendo às linhas clássicas da construção original. As obras totais só foram concluídas em 1953.
O Palácio Universitário - Expoente da Arquitetura Neoclássica do Brasil


O projeto do Palácio Universitário foi concebido por um trio dos mais representativos arquitetos do período oitocentista brasileiro: Domingos José Monteiro, Joaquim Cândido Guilhobel e José Maria Jacinto Rebelo, todos com passagem pela Escola de Belas Artes.
O plano original é de Monteiro, com exceção do pórtico, de autoria de Guilhobel. Em 1843, Monteiro retirou-se da direção das obras, assumidas por Rebello, que por sua vez modificou o projeto original.
O prédio é considerado uma obra-prima do estilo neoclássico no Brasil. Toda a edificação é cercada por um gradil de ferro fundido decorado e por pegões de granito.
No centro da fachada principal, o pórtico de entrada é formado por um pequeno templo de gnaisse bege semelhante a outros exemplares do estilo neoclássico na cidade. O pórtico apresenta escadaria de 10 degraus, ladeada pelas estátuas da Ciência e da Caridade, ambas esculpidas por Pettrich.



Ao entrarmos no edifício, nos deparamos com um elegante vestíbulo com piso ladrilhado de mármore, que antecede a escadaria de jacarandá escuro. O lance central conduz à Capela de São Pedro de Alcântara. Também se vê na escadaria uma bela clarabóia, construída por José Jacinto Rebelo.
Segundo a descrição do Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica do Rio de Janeiro, “Para ambos os lados, a partir do eixo central, o edifício desenvolve-se simetricamente em torno de seis pátios internos quadrados cercados, nos dois andares, por galerias revestidas com azulejos portugueses”.
No segundo pavimento localizam-se o Salão Nobre (ou Dourado), de rica decoração onde sobressaem-se pilastras com capitéis dourados e teto de estuque, o Salão Vermelho, o Salão Moniz de Aragão e o Salão Pedro Calmon.

Átrio

Salão Dourado

Detalhes do Salão Dourado

Salão Pedro Calmon

Salão Muniz de Aragão
Para a arquiteta Lucinda Oliveira Caetano, “As arcadas que contornam os pátios, conferem ao conjunto certo clima dos antigos claustros(...) Os altíssimos pés-direitos conferem ao monumento, gravidade e nobreza”.
Capela de São Pedro de Alcântara

Situada no segundo pavimento do Palácio Universitário, a Capela de São Pedro de Alcântara possui área de 136 metros quadrados, com capacidade para 150 pessoas.
Coberta por berço de estuque, a Capela também segue o padrão neoclássico do edifício. O salão possui pé direito duplo coberto com abóbada e janelas altas à guisa de tribuna.
No altar se encontra a imagem de São Pedro de Alcântara, esculpida em mármore de Carrara, por F. Pettrich.


Nas laterais superiores há quatro guarda-corpos de cada lado, de onde os alienados assistiam à missa e a outros ofícios religiosos. Sobre a portaria principal situa-se o coro alto.
É palco de cerimônias religiosas e concertos de música sacra. Várias cenas de casamentos em novelas e filmes foram gravadas neste espaço, como o recente “Se Eu Fosse Você”.
Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ

Hoje, o antigo Hospício dos Alienados abriga o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, que tem por objetivo difundir para a sociedade o que a Universidade produz de melhor nos campos da arte, da cultura e da ciência.
Assim são produzidas pela equipe do Fórum atividades e projetos culturais e acadêmicos, como concertos musicais, recitais de poesia, apresentação de operetas, peças de teatro, performances, solenidades acadêmicas, congressos, seminários, palestras, formaturas, lançamento de livros, pequenas exposições e cursos, entre outros. O Fórum de Ciência e Cultura também lutou pela campanha das Diretas Já, em 1993, e tem abrigado relevantes pensadores acadêmicos.
CURIOSIDADE - A Noite do Amor, o Sorriso e a Flor no anfiteatro da UFRJ

Em 20 de maio de 1960, foi realizado, no anfiteatro ao ar livre da Faculdade de Arquitetura, na Praia Vermelha, o show “Noite do amor, o sorriso e a flor”, considerado o primeiro festival de Bossa Nova. O espetáculo aconteceria na PUC, mas foi vetado pelo reitor, contrário à inclusão de última hora de Norma Bengell, que aparecera nua no filme Os cafajestes. Diante do impasse, o evento foi transferido para o Teatro de Arena da Faculdade Nacional de Arquitetura, ganhando uma repercussão estrondosa. O show reuniu, naquele espaço , que foram prestigiar João Gilberto, Nara Leão, Vinícius de Moraes, Os Cariocas, Nana e Dory Caymmi, Sylvinha Telles, Luiz Carlos Vinhas, Roberto Menescal, Chico Feitosa, Sérgio Ricardo, Johnny Alf, Astrud Gilberto, Pedrinho Mattar e Caetano Zama, além da esfuziante Norma Bengell.


Por Leo Ladeira.
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SERVIÇO
Fórum de Ciência e Cultura - UFRJ
Palácio Universitário da Praia Vermelha
Av. Pasteur, 250 - Urca - Rio de Janeiro/RJ
Tel.: (21) 2295-1595
Fontes de Referência:
• “Palácio Universidade do Brasil: Um Legado do Neoclássico” – por Lucinda Oliveira Caetano. Cadernos do Patrimônio Cultural. Departamento Geral de Patrimônio Cultural – Prefeitura do RJ. Abril 1992.
• Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica do Rio de Janeiro. Editora Casa da Palavra. 2000.
• Ferreira da Rosa, Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: Edição Oficial da Prefeitura, 1905).
• Instituto Philippe Pinel: origens históricas. Fernando A. da Cunha Ramos / Luiz Geremias.
• Acervo Documental: Prontuário do Hospício Nacional de Alienados.
• Fotolog Saudades do Rio - Luiz Darcy.
• Site do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
• Nelson Motta - Noites Tropicais. Solos, improvisos e memórias musicais. Editora Objetiva, 2000. |
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