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Localizada na Saúde, Zona Portuária do Rio, aos pés do Morro da Conceição (próximo à Praça Mauá), a Pedra do Sal pode ser considerada um monumento às tradições afro-brasileiras, como o samba, a capoeira, o partido alto e o candomblé.
Trata-se de uma formação de granito onde foram esculpidas escadas que dão para o Morro da Conceição. A Pedra do Sal é formada por gnaisse facoidal, chamada de “a mais carioca das rochas” por se encontrar em vários monumentos naturais e históricos da cidade, como o Morro do Pão de Açúcar.
É constantemente chamada também de “testemunho da africanidade”, já que naquela região afastada do núcleo central da cidade, os negros baianos e africanos se instalaram e viveram.
O VALONGO E A PEDRA DA PRAINHA

Litoral da Prainha e Valonguinho
No final do século XVIII, aquele local do Rio era conhecido como Valongo e englobava os atuais bairros da Gamboa, Santo Cristo e Saúde. A futura área portuária carioca consistia-se então em uma estreita faixa de terra espremida entre a Baía de Guanabara e uma série de pequenos morros, que praticamente isolavam a região do núcleo urbano.
O afastamento fez com que aquela área fosse pouco habitada até o século XIX. Segundo Brasil Gerson, tratava-se de uma “zona de pescadores, onde depois se concentraria o comércio de importação e exportação do Rio de Janeiro”. Como aquele trecho do litoral era bastante acidentado, proporcionava bons ancoradouros no fundo dos seus sacos e enseadas, o que favoreceu o desenvolvimento de atividades ligadas à navegação e ao comércio.
Um desses acidentes era a Pedra da Prainha, retratada pelo pintor Thomas Ender em 1817. A Pedra da Prainha foi parcialmente demolida e o que restou dela é a Pedra do Sal, hoje afastada do mar após sucessivos aterros.

Vista da Pedra da Prainha - Thomas Ender – 1817
Nos séculos XVII e XVIII aquele era um dos principais locais de desembarque de navios negreiros no Rio. E para ali seria transferido o mercado de escravos.
Enquanto os homens trabalhavam na estiva e despejavam o sal dos navios na famosa pedra (daí seu nome), as mulheres – as tias - , faziam peixadas e mocotó. Tudo regado por batuques e jongos que vinham das pensões ali existentes.
A PEDRA DO SAL: BERÇO DA RELIGIOSIDADE E DO SAMBA

A Revolta da Armada e a Revolta da Vacina

A Revolta da Chibata
A Pedra do Sal foi testemunha de muita religiosidade, festa e luta. Ali também eram feitos despachos e oferendas aos orixás. Os negros da Zona Portuária participaram também de importantes momentos da história social e política do Rio, como a Revolta da Armada, a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata.
Foi daquela região que saíram grandes nomes do samba e da MPB, como Donga, Pixinguinha, João da Baiana e Sinhô.
Por volta de 1893, os baianos que frequentavam a casa da Tia Sadata fundaram o que, segundo o relato de Donga, foi o primeiro rancho do Rio de Janeiro, o Dois de Ouro.

Quarteto de Bambas (Donga, Pixinguinha, João da Baiana e Sinhô)

Tia Ciata, Bucy e Hilário Jovino Ferreira e família
Segundo o sambista Bucy Moreira, neto da célebre Tia Ciata, “O samba nasceu na casa da Tia Sadata, na Pedra do Sal”.
Outro personalidade ilustre que saiu dali foi Hilário Jovino Ferreira, que veio a ser o principal organizador dos ranchos do bairro da Saúde. Hilário morava no Beco do Inácio, n.º 15, ao lado da Pedra do Sal.
TOMBAMENTO


A Pedra do Sal foi tombada como patrimônio pelo governo do estado por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, em 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, de 1984.
No belo parecer que consubstanciou o tombamento, o historiador Joel Rufino dos Santos deu a dimensão da importância do local para os moradores, informando que dali eles "saudavam os navios que chegavam da Bahia com familiares e amigos. A Pedra do Sal era, para migrantes, o que é hoje o Cristo Redentor para os recém-chegados ao Rio: O primeiro abraço e o primeiro sentimento da cidade".
Ainda hoje a Pedra do Sal é formada por descendentes de escravos africanos. Atualmente, moradores lutam para provar que escravos ocupavam a área já em 1816 e que o local merece ganhar o título de área quilombola.

Rodas de Samba

A Pedra do Sal foi revitalizada nos últimos anos com as disputadas rodas de samba que ali acontecem. A roda que acontece na Pedra é considerada uma das melhores da cidade. O comando do evento é da Roda de Samba da Pedra do Sal.
Sobre o monumento escreveu o jornalista Viktor Chagas: “A Pedra do Sal é o fator de identidade de uma comunidade repleta de identificações diferentes que se completam e complementam, circundando-a e inundando-a de vida. É uma área de proteção ambiental, um patrimônio histórico e cultural, um reduto do samba e da feijoada, um ponto de referência, um escorregador para as crianças, uma escada para os passantes, uma pedra. Nada mais que uma pedra”.

Pesquisa e Fotos: Leo Ladeira
Fotos Roda de Samba: Ivo Korytowski
Fontes de Consulta:
* Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. Roberto Moura, 1995. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
* Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora PubliFolha; História do Samba - Editora Globo.
* A Música Brasileira deste Século por seus Autores e Intérpretes, BOTEZELLI, José Carlos – Pelão & PEREIRA, Arley. (Org.) 2000.
* Histórias da Vida e da Saúde. Viktor Chagas, 2005.
* O Gnaisse Facoidal: a mais Carioca das Rochas. Kátia Leite Mansur; Ismar de Souza Carvalho; Carlos Fernando Moura Delphim & Emilio Velloso Barroso. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. Vol. 31 - 2 / 2008.
* Arquivos INEPAC.
* Blog Literatura e Rio de Janeiro – por Ivo Korytowski. |
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