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Cine Palácio, projeto de Morales de Los Rios, está fechado há dois anos

Depois de quase 100 anos de funcionamento, o histórico Cine Palácio, na Rua do Passeio, Centro do Rio, está fechado à espera de um novo uso.
O tradicional cinema com fachada em estilo neomourisco fechou as portas em outubro 2008. Era um dos poucos cinemas remanescentes da era de ouro da Cinelândia, quando o footing na Rua do Passeio e entorno era feito por elegantes personagens da sociedade carioca.
Tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, o Cine Palácio foi vendido pelo Grupo Luiz Severiano Ribeiro para o Hotel Ambassador, pertencente ao grupo Atlântico. Especula-se que, no lugar da tradicional sala de exibição, será construído um Centro de Convenções. Ainda não há data prevista para a reforma de adaptação do edifício.
Um Palácio da Sétima Arte

Estréia do filme Grande Hotel, cine Palácio - 1933
No local onde hoje se encontra o Cine Palácio, funcionava, em 1901, o Cassino Nacional, cujo prestígio podia ser medido por suas 24 frisas, 28 camarotes e 716 cadeiras de plateia. Em 1906, foi erguido naquele local o Palace-Theatre, onde os filmes eram exibidos como acompanhamento dos números de palco.
Em 1929, o cinema passou a se chamar Palácio-Teatro, sendo completamente reformado por Francisco Serrador. Foi nesta sala que ocorreu a primeira exibição de um filme falado no Brasil: ‘Melodia da Broadway’, que estreou numa sessão especial para convidados em junho de 1929. O filme, conforme anunciavam os cartazes da época, era o primeiro “todo falado, todo cantado e todo dançado” da história. Francisco Serrador trouxe engenheiros da Western Electric Company para instalarem o novo sistema no Palácio.

Porta do Cine Palácio

O interior na década de 40
Em 1943, o espaço, já rebatizado com o nome de Cine Palácio, foi adquirido pela Companhia Brasileira de Cinemas e, em 1957, passou às mãos do Grupo Luiz Severiano Ribeiro.
Em 1979, o cinema foi dividido em duas salas.
A Fachada Neomourisca

Cine Palácio antes da restauração
O Cine Palácio foi projetado em estilo neomourisco, em 1906, por Adolfo Morales de Los Rios, um dos maiores arquitetos da belle époque brasileira.
Na década de 70, a direção do Cine Palácio optou por tapar o lado frontal do edifício com lâminas de alumínio, que mascararam os detalhes decorativos e arquitetônicos originais, como balcões, arcos em ferradura, pináculos, vitrais, balaustrada, janelas e torres.
Em 2004, depois de 30 anos escondida, a fachada foi devolvida à cidade pela Azevedo Arquitetos Associados (AAA), empresa responsável pelo projeto de restauração do cinema histórico.

Restauração Cine Palácio
Toda a superfície apresentava problemas: a argamassa estava trincada e solta em várias partes. Os balcões do segundo andar estavam bastante deteriorados, enquanto que os do primeiro andar já não mais existiam. Os ornatos estavam danificados e do conjunto original de 10 vitrais, apenas um restava, e mesmo assim encontrava-se quebrado e pintado de preto.
A argamassa foi trocada parcialmente. Foram executados moldes para todos os ornatos, como os pináculos, refeitos a partir de consultas a fotografias antigas. As esquadrias deterioradas também foram refeitas e serão pintadas com esmalte sintético acetinado na cor branco neve.

Detalhes da obra
O telhado também foi contemplado: as telhas de amianto foram trocadas por telhas francesas (de cerâmica). Foi colocada ainda calha de cobre e um novo madeiramento.
O desenho dos vitrais, em formato geométrico, foi recuperado graças à restauração da única peça que havia sobrevivido. A restauração removeu a tinta preta que recobria o vitral, que serviu de modelo para as peças que ocuparam os demais vãos.

Morales de Los Rios, Pai do Ecletismo Brasileiro

O autor da fachada do Cine Palácio nasceu em Sevilha, na Espanha, e estudou na Escola de Belas Artes de Paris. Adolfo Morales de Los Rios (1858 – 1928) foi o maior arquiteto da Belle Époque brasileira e um dos mais atuantes intelectuais de sua época.
Em 1889, Morales de Los Rios veio para o Brasil, radicando-se no Rio de Janeiro. Na então capital do país ele desenvolveu diversos trabalhos de vulto, principalmente de gosto eclético. O arquiteto participou do concursos de fachadas da Avenida Central, tirando o segundo lugar. Para a nova avenida, símbolo maior do progresso e da modernidade que o Governo tentava implementar no país, ele projetou 21 edifícios, dentre os quais a antiga Escola Nacional de Belas Artes (atual Museu Nacional de Belas Artes), o Supremo Tribunal Federal (atual Centro Cultural Justiça Federal), o edifício do Jornal O País e o Café Mourisco, entre outros.
Extremamente produtivo, Morales de Los Rios deixou quatro mil projetos de arquitetura, inúmeras aquarelas, gravuras, esculturas, monumentos e monografias sobre tecnologia da arte e renovação urbana do Rio de Janeiro. Foi um dos pioneiros do urbanismo no país, realizando um plano para a cidade de Teresópolis (RJ). É pai do engenheiro e arquiteto Adolfo Morales de Los Rios filho, autor do célebre trabalho “Grandjean de Montigny e a Evolução da Arte Brasileira” e do Palácio da Fiação da Exposição Internacional de 1922, pelo qual ganhou o grande prêmio.

Fontes de Consulta:
- Jornal Folha do Centro
- Revista Eletrônica Mais Passeio – Setembro 2004
- Acervo Grupo Luiz Severiano Ribeiro
- Blog Foi um Rio que Passou
- Site Memória Bravo Brasil
- Blog Saudades do Rio - O Clone
- Site Carmen Miranda
- Blog Rio Daily Photo |
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