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A primeira fundição em bronze no Brasil

O maior destaque artístico do Passeio Público do Rio de Janeiro, construído entre 1779 e 1783, é o Chafariz dos Jacarés, fonte abastecida no passado pelo Chafariz da Carioca, por intermédio de canos subterrâneos. Localizado na extremidade do jardim, o chafariz é composto por um largo tanque de cantaria e por peças em bronze, fundidas por Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim, na Casa do Trem.
O Chafariz dos Jacarés, também conhecido como Fonte dos Amores, foi construído em um pequeno outeiro artificial formado de pedras presas por plantas e arbustos. Sobre as pedras se encontravam pousadas três aves pernaltas que jorravam água pelos bicos. Na base, dois jacarés entrelaçados lançavam água pelas bocas para um grande tanque.
Completava o conjunto um esguio coqueiro de ferro, descrito por vários viajantes que visitaram a cidade no período colonial. Segundo o escritor Joaquim Manuel de Macedo, o vento destruiu os galhos do coqueiro, que acabou sendo retirado do parque, bastante deteriorado, em 1806, a mando do vice-rei Conde dos Arcos. Em seu lugar foi instalado, em um pedestal de granito, um busto da deusa Diana em mármore.
O coqueiro de ferro faz parte de uma história romântica registrada por Valentim no conjunto do chafariz. Uma antiga lenda contava que o vice-rei d.Luís de Vasconcelos apaixonara-se por uma moça pobre chamada Suzana que vivia nas redondezas do jardim, em uma casa ladeada por um coqueiro.
O Chafariz dos Jacarés do Passeio Público teve papel importante na evolução da arte no Brasil, por representar a primeira tentativa de estilização de animais da fauna nacional. Com esta obra, Valentim torna-se um dos precursores da nacionalização da arte brasileira.

A fonte no passado
Os jacarés do Passeio impressionam pela maneira como foram executados, levando-se em conta os recursos possíveis no Rio de Janeiro do século XVIII. Trata-se de uma peça única, sem encaixe e toda emendada. Um fundidor que a examinou recentemente disse que fazer algo parecido hoje seria muito difícil – a peça teria que ser modelada em pedaços.
Não só a Fonte dos Jacarés, mas todos os chafarizes executados pelo mestre se afastaram da influência portuguesa. Outra inovação de Valentim é o fato dele ter feito a água sair da boca de animais e não das tradicionais carrancas. Para José Mariano Filho, a idéia de fazer a água jorrar da boca de animais constitui por si só, uma inovação, sob o ponto de vista concepcional.
Do conjunto original do Chafariz dos Jacarés não restou quase nada, a não ser o próprio corpo da fonte e os jacarés. Não se sabe qual foi o fim do busto de Diana, que até bem pouco tempo atrás adornava o chafariz. As aves pernaltas (chamadas também de garças, saracuras ou íbis) foram levadas em 1905 para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a pedido do então diretor da instituição, João Barbosa Rodrigues.
Restauração do Chafariz

Em 2004 foi realizada uma grande restauração no Passeio Público, empreendida pela Fundação Parques e Jardins. Após a restauração, os jacarés, que se encontravam semi-soterrados e cobertos por uma camada de tinta preta que mascarava seus detalhes, podem ser vistos em sua plenitude. Com a retirada da tinta, o visitante passou a ter a chance de admirar a riqueza de detalhes confeccionada pelo Mestre Valentim: olhos, escamas, rugas, nervos, ossos e até os papos dos répteis de bronze chamam a atenção.
Várias peças também sofreram a ação do vandalismo, perdendo partes como línguas, dentes e caudas. As peças faltantes também foram recompostas.


Os degraus inferiores da Fonte dos Amores, que foram aterrados por Glaziou na reforma de 1862 e foram encontrados nas escavações arqueológicas durante a restauração de 2004, ganharam novo projeto paisagístico, com a criação de um fosso gramado. Com a descoberta dos pisos inferiores do chafariz, percebeu-se qual era a dimensão primitiva do conjunto, alterado posteriormente por Glaziou. Por meio da escavação arqueológica, encontrou-se o nível original do parque, escondido a 65 cm de profundidade.
Chafariz dos Jacarés em 2011

Em fevereiro de 2011, o Chafariz dos Jacarés apresenta algumas marcas de ferrugem causadas pela água, que, aliás, não está mais jorrando das mandíbulas dos répteis.
Vários dos dentes inferiores das peças foram roubados e a vegetação está alta, cobrindo alguns detalhes das esculturas.

Fotos do Chafariz dos Jacarés à época da restauração de 2004: Leo Ladeira.
Fotos recentes do Chafariz dos Jacarés: Alexandre Siqueira.
Fontes de Consulta:
• Site Passeio Público (www.passeiopublico.com)
• ABRANTES, Nicolau. História da fundição artística no Brasil. RJ: Vecchi, 1979.
• BURY, John. Arquitetura e arte no Brasil colonial. SP: Nobel, 1991.
• FONTAINHA, Affonso. História dos monumentos do Rio de Janeiro. RJ: Ed. Americana, 1963.
• MARIANO FILHO, José. O Passeio Público do Rio de Janeiro. RJ: C.Mendes Júnior, 1943.
• MARIANO FILHO, José. Os três chafarizes de Mestre Valentim. RJ: C.Mendes Júnior, 1943.
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