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Ela perdeu o prestígio e a nobreza do passado, quando era endereço de barões e viscondes, mas, com mais de 200 anos de história, a Rua dos Inválidos, no Centro do Rio, ainda possui muitas riquezas a mostrar.

Paralela à Gomes Freire, no coração da Lapa, a Rua dos Inválidos se estende por quatro quadras entre as ruas Visconde do Rio Branco e Riachuelo. Foi aberta em 1791 pelo vice-rei Conde de Resende, recebendo o nome de Rua Nova de São Lourenço, em referência a um oratório que existia nas proximidades. O nome “Inválidos” surgiu três anos depois, quando ali foi construído um asilo para soldados reformados ou invalidados.
Moradores ilustres
Na rua viveram nobres como a Baronesa de Bambuí e o Visconde de Uruguai. Outro morador ilustre foi Francisco Targine, o Visconde de São Lourenço.

Conselheiro de D.João VI, o visconde morava em um casarão construído no século XIX, na esquina da Inválidos com Riachuelo. Após sua morte, a casa teve vários proprietários e chegou a sediar o Colégio Marinho. Hoje, do antigo palacete do visconde só resta praticamente a fachada, apesar de o prédio ter sido tombado pelo IPHAN em 1938. Parte do reboco do edifício caiu e paredes internas despencaram.
Sem telhado e em completa ruína, o casarão foi interditado e acabou tornando-se abrigo para mendigos e meninos de rua. O IPHAN e a Prefeitura do Rio já iniciaram o processo de escoramento do que ainda está de pé e os invasores foram expulsos. “O Município está tentando adquirir o edifício para restaurá-lo e dar-lhe nova utilização”, garante Teodoro Joel, chefe da Divisão Técnica do IPHAN.
 Casa do Barão no passado e atualmente
O velho casarão do visconde não é o único bem tombado da rua. Também são protegidos por lei a Igreja de Santo Antonio dos Pobres, o cortiço “Chora Vinagre” e o edifício da Polícia Central.
Descaracterização, Abandono e Interdição
Apesar de estar descaracterizada, com muitos prédios novos e lojas comerciais, a Inválidos ainda guarda parte de seu casario histórico, que pode ser visto principalmente nas primeiras quadras. Segundo os moradores, os principais problemas da rua são a iluminação insuficiente e a falta de tratamento de esgotos.

Em dezembro de 2009, a Defesa Civil Municipal interditou um trecho da rua. Cerca de 300 pessoas foram obrigadas a sair de casa com as roupas do corpo, após um morador do prédio número 18 ouvir estalo e ver a parede do quarto afundar. Vários edifícios, um estacionamento e a Igreja de Santo Antônio dos Pobres foram interditados e precisarão passar por obras. Os danos estruturais nos prédios da Rua dos Inválidos podem ser devidos à obra da empresa W Torre Engenharia, responsável pela construção de quatro torres que serão utilizadas pela Petrobras.
Atrações da Rua:
Igreja de Santo Antonio dos Pobres (nº 42)
A capela primitiva foi construída naquele mesmo local em 1811, por um rico senhor, Antonio José de Souza. D.João VI assistia as missas ali. A igreja foi reconstruída em 1940, ganhando feição neo-românica. O templo tem nave única, com cinco altares laterais.

No altar-mor, está a imagem do padroeiro, Santo Antônio dos Pobres. A fachada é em pó de pedra. Por toda a nave, vitrais retratam passagens da vida de Santo Antonio. A Sacristia ocupa o lugar de um antigo cemitério. No batistério, encontra-se uma belíssima pia de mármore. A igreja era freqüentada por Bentinho, personagem central de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Hoje, o templo é um dos imóveis da Rua dos Inválidos que apresenta risco de desabamento.
O padre Sérgio Marcos disse recentemente ao Jornal O Globo que, há cerca de seis meses, a Igreja começou a apresentar pequenas fissuras nas paredes. Elas foram aumentando e aparecendo em outros locais, como na escadaria exterior e próximo ao altar. Atualmente a Igreja está interditada.
Cortiço Chora Vinagre (n° 124)
Conserva a atmosfera dos cortiços da época do “bota a baixo”, com varais repletos de roupas, tanques coletivos e escadarias e piso de madeira. Construído em 1893, o cortiço possui 69 cômodos distribuídos em dois pavimentos, com apenas seis banheiros, sendo só três com chuveiro. O Chora Vinagre mantém as características da moradia típica do centro da cidade do século XIX - sobrados divididos em muitos cômodos, com dependências coletivas, como banheiro e lavanderia. O pátio descoberto ainda apresenta resquícios do piso em pé-de-moleque do fim do século XIX. Tombado pelo Patrimônio Municipal.
Prédio da Polícia Central (esquina c/Rua da Relação)
Quando foi construído, em 1908, era conhecido como Palácio da Polícia. A construção de prédios bonitos e modernos visava à melhoria da abalada imagem da polícia de então. Projetado em estilo eclético por Heitor de Melo, em seu interior destacam-se os belos vitrais, o piso em mosaico, a escadaria de mármore, os azulejos e o antigo elevador.

A esquina é valorizada pela cúpula e pelo tratamento monumental da entrada. O prédio ganhou má fama após ter sediado o DOPS durante o regime militar. É a atual sede do Museu da Polícia Civil, instituição fundada em 1912 e hoje integrada na programação do corredor cultural do centro da cidade. Horário de visitação: de 2ª a 6ª feira, de 11h às 17h30min.
Antigo Casarão do Visconde de São Lourenço (nºs 193/203)
Naquele local foram construídas, no século XVIII, diversas casas térreas. Seu proprietário era o antigo oficial das ordenanças Antônio da Cunha. Em 1820, o casarão foi reformado e adquirido por Francisco Targine, o Visconde de São Lourenço e antigo Conselheiro de D.João VI.

Após sua morte, a casa teve vários proprietários e chegou a sediar o Colégio Marinho. No século XX, funcionou como mercearia, barbearia, salão de bilhar a até como casa de pasto. O prédio possuía três pavimentos, e teve suas portas e janelas alteradas. Encontra-se praticamente em ruínas.
Por Leo Ladeira
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Fontes de Consulta:
* Guia dos Bens Tombados Brasil – Maria Elisa Carrazzoni – Expressão & Cultura – 1987.
* Guia da Arquitetura Eclética no Rio de Janeiro / Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Urbanismo, Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro. 2001.
* Rio Antigo - Roteiro Turístico-Cultural do Centro da Cidade. EMBRATUR – 1979.
* Guia das Igrejas Históricas da Cidade do Rio de Janeiro – Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / 1997.
* da Silva, Prof. Jerônimo de Paula - in Palestras - Depto. de História e Teoria - FAU/UFRJ - 2001
* Rio revitaliza cortiços do centro – O Estado de São Paulo - 31/05/2009
* O Globo online – 12/12/2009
* Acervo Leonardo Ladeira
* Acervo Ayrton 360º
* Home Page Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro
* Flog Foi um Rio que Passou
* Flog Carioca da Gema |
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