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Arte no céu do Rio
quinta-feira, 16 de abril de 2009
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Show de fogos do celebrado Groupe F na Lagoa Rodrigo de Freitas será o primeiro de 200 grandes eventos programados para o Ano da França no Brasil

O Ano da França no Brasil começa na semana que vem, dia 21.04.09, no céu da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Dali, iluminado pelos fogos de artifício da companhia francesa Groupe F, o Ano vai atravessar o Rio, pegar a estrada Brasil afora e buscar qualquer oportunidade para estreitar os laços entre os dois países. Serão 200 grandes eventos, um número menor do que os mais de 600 previstos no anúncio da programação, em dezembro do ano passado, mas mais razoável para um período de crise financeira, em que a dificuldade em captar patrocínios é grande.

Crise alguma, porém, poderá ofuscar o que está sendo preparado para a cerimônia de abertura: pirotecnia em forma de arte.

O francês Groupe F, responsável pelo espetáculo da próxima terçafeira na Lagoa, é o mesmo que planejou os fogos da virada do milênio em Paris, quando a Torre Eiffel foi iluminada, e que preparou a abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Seu diretor, o francês Christophe Berthonneau, esteve no Brasil pela primeira vez há dois anos, para iniciar os preparativos do show de fogos, luzes e música que dará início ao Ano. Desde então, foram seis viagens, para organizar o que ele chama de “um ato generoso à altura da dimensão do Brasil”.

— No Rio, há um espetáculo de fogos magnífico a cada fim de ano, que é o Réveillon de Copacabana.

Mas o que nós fazemos é diferente.

Vamos mostrar outra forma de pirotecnia, com uma apresentação coreografada, em que o espaço é desenhado para criar um ritmo mais de beleza, menos de barulho — explicou Berthonneau, por telefone, ao GLOBO. — A questão que nós levantamos é: como fazer um show que nunca foi feito antes? Não é um espetáculo pronto que traremos ao Rio. É tudo novo. E, se você me permite um comentário mais pessoal, eu acho que será um dos maiores espetáculos que já fiz.

Berthonneau chega hoje ao Rio

Espera-se que a apresentação — marcada para as 20h, com duração de 30 minutos e gratuita — atraia mais de um milhão de pessoas para o entorno da Lagoa. O tema escolhido pelo Groupe F é “O encontro da água e do fogo”. Quatro grandes balsas e 64 pequenas serão distribuídas pelo espelho d’água, interligadas por cabos, a fim de criar uma espécie de balé de luzes a partir da detonação de mais de sete toneladas de explosivos.

Quarenta e oito pessoas da equipe de Berthonneau virão ao Rio para se juntar a 150 brasileiros contratados para o evento. Para realizar o espetáculo, a Dell’Arte, empresa responsável por trazer o Groupe F ao Brasil, precisou pedir licenças ambientais a 30 órgãos públicos.

— Nunca houve nada parecido aqui em termos de tecnologia. É uma coisa tão complexa que as pessoas não estão acreditando que vamos montar isso em apenas dez dias — diz Myrian Dauelsberg, presidente da Dell’Arte.

O próprio diretor do Groupe F só chega ao Rio hoje. Com 19 anos de experiência à frente da companhia, Berthonneau mostra a ansiedade de um garoto ao falar de seu espetáculo.

Adjetivos empolgados como “fabuloso” e “grandioso” são comuns no discurso de um artista que começou a carreira no teatro, antes de descobrir que fogos de artifício também podem ser arte.

— Eu encaro a arte como forma de expressão. Acredito que temos conseguido isso com nossos shows — diz ele. — Há 300 anos, no Palácio de Versailles, havia Molière, Lully e um pirotécnico. Eram um dramaturgo, um compositor e um pirotécnico. Eram eles que serviam à corte. Quando Luís XIV queria impressionar outros reinos, ele pedia espetáculos de pirotecnia.

Hoje, isso se perdeu com o vídeo, o cinema ou a fotografia.

Mas a pirotecnia é uma arte muito antiga e conhecida.

R$ 90 milhões em projetos

Os fogos do Groupe F serão apenas o primeiro momento de uma série de atividades que começa no Dia de Tiradentes e segue até 15 de novembro, quando um grande concerto será realizado para encerrar o Ano, bem no Dia da Proclamação da República — curiosamente, início e fim das atividades foram marcadas para duas datas que comemoram fatos históricos ocorridos em sintonia com os ideais da Revolução Francesa.

No ano passado, o governo brasileiro chegou a chancelar quase 650 projetos ligados ao Ano. Os recursos viriam de captação de patrocínio pela Lei Rouanet, por leis de incentivo estaduais e municipais, e por verbas diretas dos governos brasileiro e francês e de empresas.

Mas aí veio a crise financeira, o que fez com que o número inicial fosse murchando até uma quantidade mais realista de 200 eventos.

— Por conta da restrição de crédito, a dificuldade para conseguir recursos pela Lei Rouanet é maior. Isso pode fazer com que alguns projetos não consigam se viabilizar. Mas garantimos que os principais 200 eventos vão acontecer — explica Marcelo Dantas, diretor de relações internacionais do Ministério da Cultura.

— E o número de 650 era mesmo um tanto exagerado. De 21 de abril a 15 de novembro, são mais de 200 dias.

Com 200 projetos, teremos pelo menos um evento acontecendo por dia.

O Ano deve movimentar R$ 90 milhões em projetos.

Só que, para que esse ano de 200 dias seja um sucesso, antes é preciso que o céu da Lagoa seja iluminado. Nesse espírito, o Rio, na semana que vem, terá que se tornar a Cidade Luz.

Fonte: O Globo [16.04.09]

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