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Exposição de longa duração do Museu de Folclore Edison Carneiro fecha para reformas
quarta-feira, 9 de junho de 2010
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O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Ministério da Cultura, comunica ao público o fechamento à visitação da exposição de longa duração do Museu de Folclore Edison Carneiro até a conclusão das obras de reforma dos espaços, iniciadas em maio. Visando garantir a segurança do acervo, as peças em exposição serão retiradas e abrigadas nas reservas técnicas do Museu.

A decisão foi tomada pela direção do CNFCP após tentativas de manter os espaços abertos mesmo com as obras em andamento, o que se revelou impossível diante do vulto da reforma, que inclui restauração dos telhados, pintura e instalação de novos equipamentos de segurança. A direção pede a compreensão do público e comunicará a reabertura da exposição à visitação. A mostra está instalada em dois casarões do final do século 19 tombados pelo Iphan, na Rua do Catete, 179 e 181, no Rio de Janeiro.

>> O Museu <<

O Museu de Folclore Edison Carneiro abriga expressivo acervo representativo da cultura popular brasileira. Soma hoje mais de 14 mil objetos de vários autores, técnicas e procedências, dos quais cerca de 1.400 estão em exposição permanente e os demais abrigados em reservas técnicas. Sua criação data de 1968, embora seu acervo venha sendo constituído desde a década de 1950, pela Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro.

O Museu é vinculado ao CNFCP, órgão federal que tem por missão promover ações que busquem, por meio de pesquisa e documentação, conhecer as realidades específicas em que ocorrem as mais diversas expressões do fazer brasileiro, procurando acompanhar as constantes transformações por que passam, bem como apoiar e difundir os processos culturais populares, propondo e conduzindo ações para sua valorização e difusão.

O Museu apresenta em sua exposição permanente objetos representativos de diferentes modos de vida e formas de expressão de vários grupos culturais da sociedade brasileira. Os objetos foram selecionados em seus contextos sociais e culturais de origem e assumem uma nova função: a de porta-vozes de uma entre as muitas histórias possíveis sobre o homem brasileiro. A exposição não trata do ‘mito das três raças’; usa essa expressão do antropólogo Roberto da Matta como gancho para falar sobre as muitas influências aqui encontradas. Está organizada em cinco unidades temáticas: Vida, Técnica, Religião, Festa e Arte.

O módulo Vida oferece aos visitantes representações de artistas populares, como os mestres do barro do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, ou do Alto do Moura, em Caruaru/PE, do tecido, da comunidade do Chapéu Mangueira e da Cooperativa Abayomi, ambas no Rio de Janeiro, ou da madeira, entre outros. Esses trabalhos abordam o ciclo da vida, suas etapas, e os rituais com que o homem, em comunidade, as distingue. Assim são representados nascimento e morte, namoro e casamento, escola e brincadeiras infantis, profissões e formas de divertimento, encontrados, ao longo do território nacional, em constante processo de transformação estimulado pelos meios de comunicação de massa, mas preservados pela transmissão oral - marcas culturais registradas na arte e engenho desses mestres populares.

Percorrendo o módulo Técnica, além de ambientações de tecnologias tradicionais relativas à alimentação, o visitante é transportado a pólos produtores de cerâmica (Maragogipinho/BA e Apiaí/SP), ao universo de tecelãs goianas, a comunidades pesqueiras nordestinas e fluminenses, com sua diversidade de trançados - seja em fios, seja em fibras - e chega mesmo a uma feira popular, espaço privilegiado de escoamento de produção artesanal e de convívio social, em que se encontram o lambe-lambe ou os sábios praticantes da medicina popular, e muita diversão.

No exercício de sua fé, não é raro o brasileiro superpor santos católicos, orixás do candomblé e entidades de devoção da umbanda no Rio de Janeiro. O estabelecimento de laços entre os homens e suas divindades, meta da religiosidade popular, está representado no módulo Religião por ex-votos coletados no Ceará, ferros de assentamento de orixás recolhidos na Bahia e uma procissão ecumênica diante de uma imagem de São Jorge e tendo à frente uma bandeira do Divino. A música, relevante marca cultural que permeia os vários espaços, é aqui simbolizada por atabaques rituais com suas especificidades afro-brasileiras.

Na linguagem das danças, cantos, fantasias e comidas, o brasileiro fala sobre a sociedade em que vive, seus valores e crenças. Nas festas e por meio delas são permanentemente construídas maneiras de viver e de ver o mundo. Enfatizando o processo que culmina no grande evento, o módulo Festa destaca, entre outras, o maracatu pernambucano, a folia-de-reis do Rio de Janeiro, a cavalhada de Pirenópolis/GO e o bumba-meu-boi maranhense.

Encerrando com o módulo Arte, o visitante entra no universo de indivíduos que, provenientes de extratos populares, sofreram o impacto da civilização industrial, incorporando-o a sua arte, expressão de seus sentimentos e experiências. São esculturas em barro ou madeira, gravuras e pinturas de autoria de mestres da arte popular como: Mestre Vitalino, Nhô Caboclo, Luiza Dantas, GTO, Chico Tabibuia, Galdino, Antônio Poteiro, entre outros.

>> Edison Carneiro (1912-1972) <<

Etnólogo, folclorista, historiador, Edison Carneiro foi um dos mais importantes pesquisadores da cultura popular, tendo participado de movimentos que visavam ao conhecimento e valorização do folclore nacional. Nascido em Salvador, Bahia, em 1912, e formado em Ciências Jurídicas, viveu no Rio de Janeiro desde 1939, onde trabalhou como jornalista, ensaísta e professor, sempre voltado para as questões que tocavam a brasilidade e o popular.

Sua atuação na área do folclore iniciou-se com o interesse que desenvolveu pelos cultos populares de origem africana e pela cultura popular em geral, a partir de 1933. Desde então passou a ser convidado com freqüência para desenvolver estudos, produzir textos, palestras e cursos. Dentre as instituições em que atuou, destacam-se, além de várias universidades brasileiras, o Conselho Nacional de Folclore, a Comissão Nacional de Folclore, vinculada à Unesco, e entidades internacionais como as Sociedades de Folclore do México, Argentina e Peru. Foi ainda um dos redatores-coordenadores da Carta do Folclore Brasileiro (1951).

Seu envolvimento, entretanto, não era distanciado ou restrito à documentação científica. Edison Carneiro foi presidente de honra de diversas agremiações carnavalescas, entre elas as escolas de samba Portela, Salgueiro, Mangueira, no Rio de Janeiro, e o Afoxé Filhos de Gandhi, em Salvador.
O Museu de Folclore tem seu nome desde 1976, por sua atuação fundamental para a história dessa instituição, pois Edison Carneiro foi um dos inspiradores da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, criada em 1958. Em sua gestão como diretor-executivo, no período 1961-64, foi inaugurada a Biblioteca Amadeu Amaral e iniciada a seleção e aquisição de peças para o Museu, cuja criação (1968) era uma de suas aspirações. A transformação da CDFB em órgão de caráter permanente foi conquista sua, concretizada pela criação do Instituto Nacional de Folclore (1978), atual Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular.

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Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - CNFCP
Museu de Folclore Edison Carneiro
Rua do Catete, 179/181 (metrô Catete)
Rio de Janeiro - RJ 22.220-000
Visite www.cnfcp.gov.br

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